Exame de imuno-histoquímica, que analisa proteínas do tecido de pacientes para detectar marcadores tumorais que ajudam no tratamento oncológico - Foto: Divulgação / Ebserh |
Novas tecnologias, drogas mais eficazes e tratamento humanizado unem-se em um contexto que leva em conta fatores sociais e econômicos
O avanço de tecnologias, a ampliação do conhecimento sobre as mutações celulares e sobre o DNA e a implementação de tratamentos personalizados. Esses fatores, associados a uma maior atenção aos determinantes sociais, às formas de prevenção, ao uso racional de recursos e às pesquisas colaborativas, são apontados como as principais conquistas da ciência no cuidado ao paciente oncológico, de acordo com especialistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), estatal que gerencia 41 hospitais universitários no Brasil.
“À medida que os anos passam, mais tecnologias e conhecimento se desenvolvem, mais rapidamente as medicações são desenvolvidas. A tendência é que a gente consiga aumentar a qualidade e o tempo de vida do paciente oncológico”, resume a oncologista do Hospital Universitário Onofre Lopes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Huol-UFRN), Juliana Florinda.
“A imunoterapia, que era um tratamento que praticamente não existia quando acabei a Residência, em 2013, atualmente está presente em quase todos os tipos de tumores em algum momento. Tem também grandes avanços no que chamamos de terapia-alvo molecular, que é mais eficaz que a quimioterapia e tem menos toxicidade”, explicou.
Oncologista cita tratamento personalizado
O oncologista Igor Lemos, do Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba (HULW-UFPB), disse que esses avanços possibilitam uma oncologia mais personalizada, levando em conta as características específicas do paciente e da doença. “Para o futuro, o que se espera são evoluções desse conhecimento intrínseco à célula neoplásica, permitindo a elaboração de novas estratégias de tratamento mais efetivas e menos danosas aos pacientes”, disse o especialista.
Ortopedista especializado em oncologia ortopédica, Adriano Jander Ferreira, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM), disse que os avanços das técnicas diagnósticas, com a inclusão de métodos moleculares, a imunoterapia e o aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas aumentam a sobrevida dos pacientes e dos implantes (órteses e próteses) usados nas cirurgias oncológicas ortopédicas.
Segundo ele, a chave no tratamento dos cânceres, para o futuro, é prevenção e diagnóstico. “A determinação de fatores de risco associados às características genéticas do indivíduo pode interferir positivamente no desenvolvimento destas neoplasias. Para os pacientes já diagnosticados, as terapias-alvo dirigidas são a grande promessa. Elas têm foco em combater as moléculas específicas, direcionando a ação de medicamentos, exclusiva ou quase exclusivamente, às células tumorais”, resumiu.
Oncologista diz que há muito a avançar
O oncologista do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), Guilherme Staudt, reforça que a Oncologia tem experimentado grandes melhorias. “Temos ferramentas, maquinários que nos permitem diagnósticos mais precoces e precisos, as evoluções na quimioterapia, avanços na imunoterapia e novas classes de medicamentos. Temos muito a avançar, além de dificuldades de acesso a estas tecnologias, mas, na medida do possível, conseguimos oferecer aos pacientes drogas que são mais eficazes e que permitem um tratamento adequado a todos os usuários que nos procuram nos hospitais universitários”, disse.
Especialista destaca trabalho em rede
O chefe da Unidade de Hematologia e Hemoterapia do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), Fernando Barroso, disse que desde que começou a atuar com pacientes oncológicos acompanhou avanços significativos, com o conhecimento genético-molecular permitindo diagnosticar, estratificar e tratar os pacientes de forma mais assertiva, mas ainda é preciso investimento em centros em todo o Brasil. “Sem esquecer as regiões Norte e Nordeste, onde ainda há deficiências importantes”, disse o médico.
Ele aponta o trabalho em rede dos hospitais da Ebserh como um fator importante neste cenário. “Esse trabalho de pesquisa em rede tem uma perspectiva fantástica, de otimizar os centros que têm vocação para determinadas áreas e integrar cada vez mais. Para o paciente o ganho é muito grande”, afirmou o médico.
Ebserh fortalece Rede Onco
O coordenador de Gestão da Pesquisa e Inovação da Ebserh, o oncologista Felipe Santa Rosa Roitberg, disse que este é um dos valores da rede de hospitais universitários. “Falamos de hospitais que têm uma representação nacional ampla, nas cinco regiões do Brasil, o que permite acessar as diferenças e particularidades regionais não somente do ponto de vista epidemiológico, mas levando em conta determinantes socioeconômicos, como o paciente é tratado e como ele é cuidado de forma individual e sistêmica, podendo acessar iniquidades e atuar para melhorar a assistência e desfechos”, disse.
Segundo ele, o cuidado ao paciente oncológico, hoje, é uma das prioridades para investimento traçadas pela gestão. “A direção da Ebserh definiu que ensino, pesquisa e inovação são prioridades e dentro das áreas temáticas o câncer está destacado nesta agenda”, disse o gestor. Como parte da estratégia, está a reestruturação da Rede Onco. “A Ebserh é SUS e também é MEC, portanto, terreno fértil para ensino, pesquisa e inovação a auxiliar a assistência oncológica”, explicou, reforçando a importância da rede de hospitais universitários, estruturada dentro da estatal.
Roitberg diz que este potencial não se resume a pesquisas clínicas, mas contempla a compreensão da realidade de cada população, considerando as características regionais, o impacto de políticas de distribuição de renda, a possibilidade de acesso aos serviços e tratamentos, entre outros fatores; apontando estudos que mostram como a qualidade do serviço pode ser analisada e como os estudos do sistema de saúde melhoram o cuidado ao paciente, entre outros aspectos.
“Então, sim, a gente tem uma rede no Brasil que não tem nenhuma semelhante, com uma capacidade ímpar de alavancar estudos em elevada escala. Estamos falando de estudos multicêntricos, colaborativos, numa única plataforma de dados a agregar a esta agenda de pesquisa em câncer e que podem atender a agenda de interesse do SUS”, disse.
Redução do estigma, linhas de cuidado e tecnologias são principais avanços
Para Roitbert, entre os principais avanços estão a redução do estigma quando se trata de câncer, um debate mais transparente e aberto e a compreensão de que grande parte dos cânceres pode ser potencialmente reduzida com prevenção, mudança de hábitos de vida e tratamentos customizados. “Parte do que eu traria como avanço é o maior conhecimento e a maior interlocução com a população sobre o tema do câncer. Reduzir o estigma, aumentar o diálogo e a informação”, disse.
O diretor cita, ainda, a otimização das linhas de cuidado, com a integração em tempo e qualidade dos serviços. “Não é à toa que a Ebserh está fortalecendo a Rede Onco, pensando no tratamento do paciente como um todo. Temos que pensar se um paciente tem acesso ao serviço, se demanda cirurgia, se demanda atendimento psicológico, os critérios de qualidade, os tempos para acesso aos tratamentos, etc. Isso não pode ser diluído, tem de ser pensado de uma forma integrada”, defendeu.
O terceiro ponto, ainda segundo o especialista, é o resultado de pesquisas e conquistas da ciência que chega ao paciente. “São as inovações tecnológicas, tanto do ponto de vista de diagnóstico, de melhor entendimento da questão molecular do câncer, quanto do tratamento. A gente fala de terapias específicas, como imunoterapia, terapia direcionada a alvos moleculares específicos, que fazem com que você tenha melhores desfechos, com que o paciente viva mais e melhor”.
Para ele, essas tecnologias, atreladas a políticas que levem em conta a realidade socioeconômica do paciente, com otimização dos gastos e integração dos serviços, representam o futuro do cuidado ao indivíduo com câncer. “Eu diria que o futuro é agora. Se a gente consegue implementar medidas de prevenção eficientes, otimizar o cuidado clínico e oferecer o melhor ao paciente, eu diria que anteciparemos o futuro que queremos. É o futuro que a Ebserh e o Ministério da Saúde estão construindo”, concluiu.
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