A jornada de uma docente no Distrito Federal


Por Fernando Horta 

Genoveva foi aprovada no concurso para professora do Distrito Federal em 2015. Foi uma festa! Genoveva comemorou, pois não ficaria rica, mas teria como pagar as contas e ainda dar uma vida decente a seus filhos. Era o sonho. Acompanhe o pesadelo de Genoveva em números e entenda por que a aprovação do governo cai.

Genoveva ganhava salário inicial de R$ 5.016,53 em 2015, quando o salário mínimo era de R$ 788,00. Genoveva ganhava 6,3 salários mínimos. A tabela do imposto de renda da época já colocava Genoveva na faixa mais alta. Quem ganhava acima de R$ 4.664,68 já pagava 27,5% sobre a diferença. A gasolina em 2015 custava R$ 3,89 o litro, e Genoveva recém tinha sido (mal) convencida a largar um plano de saúde completo pela "liberdade" de escolher o plano de saúde, ganhando R$ 200,00 a mais no salário.

O golpe contra Dilma Rousseff se organizava, e Genoveva estava confusa. Passados 9 anos, Genoveva ganha hoje - com todos os aumentos dos planos de carreira para professores e professoras já experimentados - R$ 7.594,82 no contra-cheque e ainda tem as deduções do plano de saúde, que agora não sai por menos de R$ 1.000,00 debitados em folha. Hoje, com quase 10 anos de serviço e trabalho, Genoveva ganha apenas 5,37 salários mínimos. Isso porque, desde o desgoverno Temer e a "granada" no bolso do servidor da dupla Bolsonaro-Guedes, Genoveva não conseguiu nem repor a inflação.

A inflação do período foi de 67,54% segundo o IBGE, e o salário inicial na carreira de professor - a carreira de Genoveva - deveria ser hoje de R$ 8.403,60. Ou seja, Genoveva ganha menos hoje - com quase dez anos de profissão - do que ganhava quando passou no concurso. Além disso, a gasolina hoje custa R$ 5,58 o litro, e a luz, o aluguel, a escola e o plano de saúde comem o resto do salário de Genoveva. Isso porque ela ficou completamente sem aumento durante toda a pandemia e teve que comprar computador e celular para dar conta do "ensino à distância".

Mas o que isso tem a ver com o governo federal? Afinal, o DF é mal governado pelo Ibaneis (aliado do Bolsonaro no golpe) há dois mandatos e, antes, teve outros governadores ruins: o Rollemberg (2015-2018), que foi um desastre, e o Agnelo (2011-2015). Bom, o problema é que Genoveva caiu na armadilha Ibaneis-Guedes para todos os servidores públicos. Durante a pandemia, com salários arrochados e os gastos inflacionários crescendo, os bancos ofereceram para os funcionários públicos "empréstimos consignados". Descontados em folha, os bancos ofereceram, com risco zero de não receber, algo como "pegue R$ 20.000,00 e pague R$ 88.000,00 em 120 meses", e assim "criaram" para o banco R$ 68.000,00 do nada.

Genoveva votou no governo Lula. Fez campanha, brigou com colegas e foi buscar voto a voto, mas não sabia do "déficit zero". Em 2024, a tabela do Imposto de Renda é exatamente a mesma do que era em 2015. Ou seja, para poder "fechar as contas", o Ministério da Economia resolveu não reajustar a tabela do IR, e isso implica dizer que Genoveva está pagando a inflação do período no imposto.

E Genoveva não tem ninguém por ela. No fim, Genoveva vê sua profissão despedaçada pelo Novo Ensino Médio, seu salário destruído pelas políticas estaduais, o juro bancário altíssimo por causa de Campos Neto, a gasolina ainda alta por causa da Petrobras, e nenhum programa para ajudá-la a pagar as dívidas. Além disso, ainda ouve que vai aumentar o trabalho por conta da "inclusão" nas escolas e hoje dá aula para quase 43 crianças, sendo 3 delas do espectro autista com crises de pânico e agressão que Genoveva tem que lidar sozinha.

É agredida por pais de alunos por falar de feminismo. É filmada por alunas evangélicas quando tenta defender uma aluna trans na sala de aula. Genoveva não entende de comunicação ou de política, mas não consegue pagar as contas e acha que o atual governo só governa para os miseráveis. Sente-se cada dia mais perto do fascismo e não acredita que o governo Lula tenha qualquer coisa de bom para ela. Só vê o trabalho e a violência aumentarem, o salário diminuir e todos ao seu redor receberem "bolsas e auxílios", enquanto o discurso diz que ela, que chegou lá por "meritocracia", está sendo prejudicada.

Quando foi entrevistada, disse que achava o governo Lula "ruim" e que não via melhora ali adiante. Vai votar para prefeito não em candidatos de esquerda, que, segundo ela, "não olham para a classe dela". Parece que despertamos o sentimento de classe... contra nós.