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Quando o assunto é abelha provavelmente a primeira imagem que nos vem à cabeça é o mel, mas muito além dele e outros produtos tangíveis conhecidos como, própolis, geleia real, cera, está um serviço crucial que elas prestam a humanidade: a polinização.

O potencial econômico, social e ambiental desse setor será debatido no Seminário “Comunicar é Negociar Fora da Bolha – O Diálogo entre Produtos do Agro e o Consumidor Contemporâneo”, (veja Serviço abaixo). De partida, os atores desta cadeia produtiva são unânimes em afirmar que o setor é capaz de promover fortemente a geração de emprego e renda sustentáveis através da ampliação de sua inserção nacional e internacional. Mas, é preciso ainda vencer as barreiras normativas, organizacionais, de financiamento e de transferência de tecnologia e conhecimento.

A polinização é essencial para sobrevivência de muitas espécies do nosso planeta, pois ao realizar a polinização a abelha não só alimenta a colmeia, mas também ajuda na fertilização das plantas. Esse processo é essencial para a sobrevivência de várias espécies, além de essencial para manutenção da biodiversidade.

Números apontam que as abelhas são responsáveis pela polinização de 80% das culturas do planeta. De acordo com Décio Luiz Gazzoni, Conselheiro da Rede Soja Sustentável e Ex-Diretor da Embrapa, existem mais de 20.000 espécies de abelhas já identificadas.

“As abelhas são importantes para o mundo como um todo, mas sem dúvidas o serviço ecossistêmico de polinização é o mais importante deles, e isso vale tanto para plantas cultivadas, alimentos, quanto para plantação nativa: ela não quer saber, poliniza a soja, como poliniza o carvalho, ou qualquer outra planta”, comentou o pesquisador.

Décio fez um cálculo do valor estimado do valor da produção da soja brasileira de US$ 82,3 bilhões. Com o incremento obtido pelo serviço de polinização da abelhaesse número pode ter um aumento de 13%. “Estamos falando que o serviço que as abelhas fazem para soja valem 10,7 bilhões de dólares ou 50 bilhões de reais, este é o valor que a polinização tem para soja no ponto de vista do produtor rural”.

Outro ponto de vista essencial neste cenário é do apicultor, que também se beneficia muito, uma vez que diversos cultivos além da soja, como girassol, canola e outros oferecem néctar e pólen para as abelhas.

Gazzoni declarou que no caso da soja os apicultores conseguem coletar até 50kg de mel por caixa de abelha, apenas considerando os dois meses da floração. Sobre o aumento de produtividade proporcionado pelas abelhas no cenário da agricultura nacional, o presidente da Rede Soja Sustentável César Borges é bastante otimista. Para ele, a convivência soja/abelha é extremamente desejável por vários motivos: já existe tecnologia para isso; a contribuição ambiental é inegável (“onde tem abelha o meio ambiente é mais equilibrado”); a redução do uso de químicos impacta positivamente a saúde dos consumidores e aprimora a imagem do setor.

 Além disso, Cesar Borges destaca o impacto social: “se a gente possibilitasse às pessoas em situação de rua, por exemplo, uma oportunidade para que eles ganhassem, recuperassem a autoestima, colocando-as para cuidar das abelhas, da produção de mel, poderíamos mudar a vida de muitas delas, além de uma fonte de geração de renda, uma profissão”. “Por esse caminho poderemos chegar às crianças menos favorecidas - uma fantasia que eu tenho, mas que pode ser real”, declarou.  

Claro que para conseguir alcançar todo esse potencial possível sob a ótica da bioeconomia existem desafios ainda a serem enfrentados, a começar por políticas públicas que olhem para essa questão. Um trabalho com o Ministério da Agricultura sendo feito para colocar a polinização como sendo um bioinsumo, no âmbito de um programa com foco na ampliação da questão da sustentabilidade na agricultura.

É preciso também assegurar a aplicação de tecnologias sustentáveis na na realidade econômica, social, ambiental e cultural do território onde operam os produtores. A falta de acesso a informações sobre boas práticas é um fator crítico das abelhas.

Já existem esforços acontecendo do ponto de vista institucional, governo, Ministério da Agricultura, ANVISA, IBAMA e entidades ligadas ao setor, com campanhas fortíssimas para reavaliarem o uso de pesticidas mais prejudiciais as abelhas.

“Inseticidas são desenvolvidos para matar insetos, abelha é um inseto, e todo inseticida terá algum tipo de impacto sobre elas, mas através do uso correto é possível eliminar esse efeito negativo. “Use quando necessário, na quantidade necessária e usando a melhor técnica”, completou Décio.

O desafio é grande, mas a inserção do trabalho das abelhas junto a agricultura gera lucros inegáveis, para produção, para apicultores, produtores rurais e revitalização do entorno onde o serviço por elas prestados impactam na biodiversidade, empregos e renda. Com conscientização e organização do setor e de todas as partes envolvidas esse potencial será realidade para cadeia produtiva e mercados nacional e internacional, dando a abelha um reinado merecido e digno.